Por que, mesmo com o tarifaço, a carne não barateou no Brasil? E como isso pode ser um bom sinal para a economia do país e para os investimentos?
- akivcinvest

- 17 de set.
- 5 min de leitura

Assim que foi anunciado o tarifaço de 50% pelos Estados Unidos, no dia 9 de julho de 2025, motivado por causas políticas e comerciais, economistas já projetavam uma queda no preço das carnes no mercado interno. Era esperado que a carne deixasse de ser importada para os Estados Unidos e fosse mais amplamente ofertada dentro do mercado interno.
Explicando melhor, segundo a lei da oferta e da demanda, quanto maior for a oferta e se mantendo a demanda, o preço tende a cair, sendo esse o efeito esperado ao preço da carne. Contudo, o brasileiro sentiu um aumento da carne nos balcões dos frigoríficos. A carne já apresenta uma alta acumulada de 22,17% nos últimos 12 meses, de acordo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), índice divulgado pelo IBGE que demonstra a taxa de inflação. Além disso, o consumo de carne tende a crescer, considerando o padrão de consumo do brasileiro, que compra mais carne nas festas de fim de ano com décimo terceiro.
O efeito, contrário ao previsto, ocorreu devido a um escoamento da produção para outros países. A China, principal comprador do Brasil, aumentou seu consumo em 48,4%, em comparação ao mesmo período em agosto, sendo seguida pelo México, que quase triplicou suas exportações em comparação ao mesmo período do ano anterior. Os Estados Unidos, que eram o segundo maior comprador de carne bovina do Brasil, caíram para a sexta posição, com países como Rússia e Chile estando à frente.
Vale ressaltar que o Brasil já pagava uma taxa de 26,4% e, a partir do dia 6 de agosto, foi acrescida uma taxa de 50%, 40% a mais comparada aos 10% anunciados por Trump no chamado “dia da libertação”, que taxou em pelo menos 10% os parceiros comerciais dos Estados Unidos.
Os efeitos da medida já foram sentidos pelos consumidores americanos, que observaram um aumento de 9% no preço da carne nos últimos seis meses. E Trump, o presidente norte-americano, já pode começar a se preocupar com a opinião do americano diante de seu governo, que caiu de 50,1% para 44,3% em índices de aprovação e subiu de 49,7% para 54,9% em índices de rejeição, de acordo com uma pesquisa da Atlas.
A inflação, que de acordo com o CPI (índice de preços ao consumidor americano) aumentou 0,4% em agosto, foi acima do esperado no mercado, que previa um aumento de 0,3%, e tem sido um dos principais motivos para sua queda na popularidade, junto com o crescimento do emprego que vem desacelerando. Esses fatores, inclusive, fizeram o FMI (Fundo Monetário Internacional) emitir um alerta para a economia dos EUA, que pode apresentar uma inflação acima do esperado pelo FED (Banco Central Americano).
Mas, a departe dos cenários geopolíticos, que impactam a economia mundial como um todo e são importantes para qualquer investidor estar ciente, devemos pontuar que outros fatores também foram responsáveis pelo aumento do preço da carne, como aspectos climáticos, de renda, de ciclos da pecuária e de exportações. A Austrália está em processo de recomposição de seu rebanho, os Estados Unidos apresentam seu menor rebanho desde 1950 e a Argentina só apresenta uma retomada no mercado global por agora.
Além disso, o mercado pecuário opera em um ciclo de baixa, motivado por um período anterior de maior quantidade de fêmeas abatidas durante uma alta dos preços dos bovinos, que ocasiona uma maior oferta de carne. Com isso, em um período posterior, o preço do animal cai, pela maior oferta de carne, e contribui para uma dificuldade de se recompor o rebanho. É nesse cenário que nos encontramos agora, com uma produção menor, já que os rebanhos nacionais apresentam pouca oferta de bovinos, aumentando, portanto, os preços. Ademais, a maior seca da história recente do Brasil e as queimadas também contribuem para o aumento nos preços, já que o pasto, principal alimento do gado, é prejudicado. Sendo assim, os pecuaristas tendem a alimentar os animais com ração, o que encarece a produção.
Mas o que isso impacta nos investimentos? Além de ser um cenário em que se discute o investimento em produtoras de carne, podemos ter uma análise mais macroeconômica da situação. Primeiro, devemos analisar o cenário econômico brasileiro. Como podemos observar, estamos em um período de baixa nas taxas de desemprego (queda de 5,8% no último trimestre), com a remuneração média aumentando, um reflexo do termo dado pelos economistas de aumento real dos salários, no qual o salário mínimo é reajustado acima da inflação. Desde 2019 o salário mínimo não apresentava ganho real.
Mas muitos devem estar se perguntando, isso não gera inflação? E a resposta, assim como a maioria das outras indagações econômicas, é: depende. Se a taxa for ajustada acompanhando a produtividade média do trabalhador, a inflação não é efetiva, caso contrário, ela é apresentada. De acordo com dados da CEIC DATA, a produtividade do brasileiro médio aumentou 1,84% em 2023 e 0,53% em 2024 frente a quedas de 4,07% em 2022 e 0,21% em 2021. Então, não, não podemos afirmar que o reajuste do salário mínimo foi o responsável direto pelo aumento da inflação e, como observado acima, a elevação do preço da carne, objeto de análise desse artigo, foi motivada por outros aspectos, que foram apontados acima.
Agora, partindo de outra perspectiva, podemos analisar em um segundo ponto, o padrão de consumo do brasileiro. A carne bovina e o frango são claros bens substitutos, termo econômico que indica produtos ou serviços que cumprem a mesma função e podem ser trocados um pelo outro no consumo com pouca ou nenhuma diferença perceptível para o consumidor. Entre as características desse bem estão a necessidade comum, na qual ambos os bens devem atender à mesma necessidade ou desejo do consumidor, variação de preços, que aponta que se o preço de um bem aumenta, a demanda pelo seu substituto tende a crescer, pois o consumidor busca a alternativa mais barata, e elasticidade cruzada positiva, na qual a elasticidade cruzada da demanda para bens substitutos é positiva, ou seja, indica que um aumento no preço de um bem causa um aumento na quantidade demandada do outro.
Com isso, você leitor, deve estar se perguntando se o preço de um bem causa um aumento na quantidade demandada do outro, por que mesmo com a carne com o preço mais alto está sendo mais demandada. Explico melhor. A carne é um bem de desejo e de luxo do brasileiro, então, assim que se tem um aumento da renda, o comportamento de consumo do brasileiro médio é substituir o frango pela carne, indicando um bom sinal para a economia do país, já que a renda está crescendo.
Finalmente, podemos concluir por que o aumento do preço é bom para os investimentos. Com uma maior renda, cresce tanto o consumo das famílias quanto sua poupança. Poupança, me refiro aqui pelo termo econômico, que representa o ato de poupar dinheiro, e não à aplicação financeira.
Perceba, então, caro leitor, que esse é o momento ideal para se investir. E, para começar a investir hoje mesmo, considere abrir uma na AkiVc Invest. Entre em contato conosco e agende uma reunião para conhecer nossos assessores e todos os benefícios do nosso escritório. É simples, fácil e prático!
Para mais análises de cenários macroeconômicos e seus impactos em investimentos, acompanhe os artigos da AkiVc Invest.
Rafael de Souza Castro
Estudante de Economia – PUC Minas
Estagiário da AkiVc Invest








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